AESE insight #29 - AESE Business School - Formação de Executivos

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Portugal. Marca, competitividade e prosperidade, por António Brochado Correia

António Brochado Correia

Territory Senior Partner da PwC Portugal, Angola e Cabo Verde 

Acabados de entrar num novo ano, é certo dizer que o que passou ainda não ficou totalmente para trás, nem deve. O ano de 2020 ficará na nossa memória coletiva como um ano atípico, pandémico, com muitas adversidades e com a necessidade de decidirmos com pouca informação. Mas também com muitas lições aprendidas, gestão na incerteza, onde deixamos de dar muito como não garantido. Tudo se encaminha agora para uma esperada normalidade, diferente, o depois, que não será igual ao antes.


Ao nível das Organizações, os líderes empresariais enfrentam, hoje, outros desafios. Aqueles que estão ainda sem respostas ou então sem soluções definidas. Como definir e estar numa nova estratégia? Qual é a melhor estrutura e cultura organizacionais? De que forma deverão ser usadas as tecnologias digitais para operacionalizar a estratégia? E como suportar uma força de trabalho com novas competências e necessidades?


Concentremo-nos nos países. Quando falamos de competitividade ou da marca de um país, esta depende, inevitavelmente, da qualidade e inovação dos seus produtos ou serviços (públicos ou privados), das pessoas, de um sistema financeiro sólido, da qualidade da educação e da saúde, e das infraestruturas e instituições. Portugal tem vindo a ser classificado em múltiplos rankings globais. Em muitos ficamos orgulhosos, noutros ficamos tristes, com a sensação que podemos e devemos fazer melhor. Embora qualquer um destes rankings não encerrem em si verdades absolutas, devem servir-nos de guião, de estímulo, mesmo quando não estamos bem, para criarmos um caminho.


Este ano a publicação dos rankings globais de competitividade do Fórum Económico Mundial – o Global Competitiveness Report (GCR) – foi substituída por uma reflexão acerca dos últimos dez anos e na definição dos principais fatores para uma transformação de longo-prazo, classificando quais os países mais bem preparados para a recuperação. Os países cujas economias estão mais digitalizadas e com mais qualificações e competências, têm vantagens. Portugal (em 37 países comparáveis), está mais ou menos a meio da tabela nos onze indicadores analisados, estando melhor na transição energética (6º) e na diversidade, igualdade e criatividade (14º) , e menos bem na capacidade de cuidados de saúde para os mais velhos e das crianças (28º), na educação (23º) e na confiança dos cidadãos (23º). Nos restantes, andamos pelo meio da tabela, o que pode levar a um sorriso ou não, dependendo da perspetiva.




No documento que lançámos em maio de 2020, “Relançar Portugal”, já tínhamos referido cinco principais vetores de análise para o desenvolvimento do país: Economia e Finanças, Relações Internacionais e Segurança, Infraestruturas, Sociedade, e Educação. Estas são as áreas de equilíbrio para alcançarmos os nossos objetivos enquanto país. Outros estudos surgiram entretanto no país que nos levam a conclusões semelhantes. Mas igualmente, sem planos, prioridades, esperando que isso possa estar tratado no tão falado Plano de Recuperação e Resiliência.


Recentemente, tem vindo a dar-se maior atenção e importância à marca-nação. Num dos vários exemplos de rankings relacionados com o tema, o Best Countries Overall Rankings 2020, Portugal está no 24º lugar (em 73 nações). Este tipo de rankings têm vindo a evoluir e já não dependem apenas de fatores económicos (como o crescimento do PIB), mas também de fatores como a qualidade do turismo, do património e cultura, do potencial para os negócios ou da qualidade de vida. São assim mais equilibrados e consideram múltiplos fatores, tendentes não apenas ao crescimento do produto de um país, mas ao seu progresso, bem estar e o impacto que tem no mundo (soft power). Relacionado está o conceito de“made in”. A reputação de um país, dos seus produtos ou serviços, das suas pessoas, está intimamente relacionada com a sua ligação aos consumidores e observadores. A vontade de visitar, de estar, de estudar ou de viver num determinado país, de comprar, de usar, juntamente com a perceção de segurança e qualidade das suas instituições e infraestruturas, formam alguns dos principais fatores distintivos de um país. Portugal lidera o top 3 do Migrant Integration Policy Index de 2020, Lisboa é a 3.ª melhor cidade para expatriados e a língua portuguesa está no top 10 das línguas mais faladas a nível mundial, das únicas faladas nos vários cantos do mundo. Estamos ainda no top12 (em 100) dos países com maior proficiência no inglês.


Quando olhamos para alguns destes dados, interrogamo-nos sobre o caminho que Portugal tem feito e as razões pelas quais um país, com 5 séculos de história, tenha vindo, nos últimos 20 anos, a crescer a uma média de 0,3% ao ano, quando a Europa e outros blocos mundiais cresceram a mais do dobro ou triplo. Porquê? A razão é simples na resposta, difícil na implementação. Não temos progredido porque não temos sido rápidos, decididos, organizados, na passagem das estratégias e diagnósticos à prática e à ação. Sabemos o que precisamos, estudamos, e em algumas matérias até convergimos, mas depois agimos apenas no curto prazo, quando é necessário ter uma visão e execução a longo prazo. E nisso podemos ver os exemplos do “Doing Business” do Banco Mundial onde, nos últimos 5 anos, baixámos de 23º para 39º em 190 países, no “Digital Competitiveness” do IMD onde baixámos de 32º para 37º, em 63 países, ou no “World Talent Ranking, de 63 países, onde descemos de 23º para 26º. Todas estas áreas são fundamentais para a nossa competitividade, o talento, a facilidade em fazermos negócios ou o digital, onde, a título de exemplo, até 2019, apenas metade das empresas tinha website, quando países como Dinamarca, a Alemanha ou a República Checa estão acima de 80%.


Num mundo competitivo, e que é nosso juíz, não nos basta ir implementando algumas medidas, temos que ser mais eficientes que os outros na sua implementação, mais profundos na sua dinâmica, ir coordenando com as várias partes interessadas, lutando contra o que está mal (e sabemos, são vastos os estudos e reflexões), e valorizando, enaltecendo e divulgando o que temos na verdade de melhor e que nos diferencia. “Fazermos o que se pode” não é suficiente, temos que ir mais além.


Grandes líderes não deixam que a ciência decida por eles, tomam decisões na incerteza, com os olhos postos nas pessoas, gerindo a excecionalidade e tendo uma visão estratégica de longo prazo, com critérios de prudência e exigência, mas também com gestão das oportunidades e do crescimento que pretendemos, enquanto cidadãos, do nosso país.


Portugal deverá saber comunicar os seus sucessos, eliminar ineficiências e procurar conduzir políticas consistentes com maior credibilidade e transparência. Para tal será preciso garantir uma ação estratégica e concertada, entre os agentes públicos e privados, Governo e Organizações, que torne possível a concretização dos planos, numa perspetiva de longo-prazo.


Só assim nos poderemos tornar, efetivamente, mais competitivos. Só assim seremos uma marca-nação robusta e reconhecida. Só assim teremos progresso, que será sempre o último e principal objetivo – o desenvolvimento humano.

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