AESE insight #30 - AESE Business School - Formação de Executivos

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O boom otimista, por Pedro Alvito

Pedro Alvito

Professor de Política de Empresa da AESE Business School e Diretor do Programa “Construir o Futuro nas Empresas Familiares”

Tenho para mim uma ideia muito própria que não estando baseada em nenhuma evidencia cientifica a tenho confirmado empiricamente em várias crises que o nosso país tem vivido nos últimos vinte anos. Sempre que surge uma crise o efeito de redução de gastos por parte dos consumidores é imediato, ou seja, como forma de proteção a poupança aumenta e o consumo diminui. Quanto maior a crise mais isto se verifica. E isto acontece, eu diria, de forma quase instantânea. Segundo o Eurostat no segundo trimestre deste ano a poupança das famílias na EU subiu 10 pontos percentuais tendo Portugal ficado exatamente na média. Quanto ao consumo, Portugal teve uma quebra de 15 p.p. tendo ficado ligeiramente abaixo da média que ultrapassou os 17 p.p..

Por outro lado, o fim das crises (talvez até porque seja difícil definir uma data de fim) leva a que a recuperação do consumo seja lenta. É um processo demorado e que implica na sua essência uma reposição dos níveis de confiança. É, pois, na exata medida dessa reposição da confiança que se vai fazendo a recuperação do consumo. E este processo é demorado.

Esta situação aconteceu exatamente assim, no consumo em Portugal, devido a múltiplas crises nacionais e internacionais: no atentado às torres gémeas, na crise financeira de 2008, na vinda da troika em 2011, na queda do BES, na crise grega, e em várias situações de crise eleitoral/governamental em Portugal para citar apenas alguns exemplos.

De facto, somos rápidos a deixar de gastar dinheiro e lentos a voltar a gasta-lo. Chama-se a isso prudência e está diretamente relacionado com a confiança.

Vem tudo isto a propósito da atual crise. Devido à pandemia todo o mercado contraiu, como se esperava, de forma violenta e instantânea. E assim temos vivido. O consumo decaiu para níveis muitíssimo baixos e a poupança cresceu para níveis que transcendem o que tem sido a nossa tendência nos últimos anos. Até aqui tudo perfeitamente “normal”, diríamos. E como será a recuperação?

Esta questão analisada ao sabor dos casos vividos no passado tem como resposta evidente que será uma recuperação lenta em que a confiança dos consumidores irá sendo retomada aos poucos. Mas será mesmo assim?

Correndo o risco de ser apelidado de “otimista descontrolado” julgo que não será de facto assim, ou pelo menos existe uma grande possibilidade que não seja assim. Esta crise difere de todas as outras por três razões: primeiro é uma crise à escala global que afeta todos de maneira igual. Nenhum país ou região poderá gabar-se de ter passado incólume a ela e, afetou em termos de saúde, tanto a ricos como a pobres. Em segundo lugar, esta crise não foi intrinsecamente uma crise financeira ou do mercado financeiro nem afetou diretamente os mercados, ou seja, em linguagem simples, o dinheiro em muitos casos existe o que acontece é que está guardado. Não passámos de situações de investimento para passar a ter perdas financeiras, mas sobretudo de consumo para poupanças. Já a terceira razão é de natureza psicológica. Pela primeira vez, nos tempos atuais, fomos todos, praticamente sem exceção, privados durante muito tempo de uma normalidade a que estávamos habituados. E TODOS vão querer voltar a ela rapidamente.

As férias que não puderam ser tiradas durante a pandemia vão agora ter um sabor diferente. Estas vão ter não só o sabor do prazer que foi proibido como vamos querer aproveitar tudo, com menos restrições porque não sabemos se não vem aí outra crise pandémica… Quem diz férias diz compras, jantares, festas, etc., etc., etc. Numa palavra: consumo!

Por estas razões acredito que vamos viver uma situação nova: depois da crise vamos ter pela primeira vez a explosão do consumo.

Qual será a possibilidade que isto aconteça? Em primeiro lugar devemo-lo à vacina e a confiança de que com ela a doença estará controlada. Em segundo lugar se as estatísticas começarem a apresentar bons resultados.

O que tem isto a ver com as empresas familiares? Tudo! Aqueles que forem perseverantes e aproveitarem estes momentos para repensar a sua atividade, reorganizar as suas empresas, formar os seus colaboradores serão aqueles que estarão em primeiro lugar para responder a este aumento que poderá ser explosivo da procura. Resiliência é a palavra de ordem e as empresas familiares sabem sê-lo. São empresas em que as crises são vistas como oportunidades, em que a aposta é sempre no longo prazo, em que as pessoas são vistas como um ativo importante e em que os valores defendem a continuidade e a preocupação social.

Como em todas as crises são os mais fortes que resistem e aqueles que têm capacidade depois para responder de forma rápida. Numa situação em que o boom poderá ser instantâneo importa estar preparado para ele, ter capacidade de resposta e ser criativo e inovador. Naturalmente que os setores ligados ao turismo serão aqueles em que mais o boom se fará sentir, mas outros virão atrás como seja o comércio em geral. Quando? Keynes dizia que no longo prazo estamos todos mortos e neste caso poderá ser tristemente verdade. As empresas não resistem eternamente. Mas se o contrário for verdade, se o futuro acontecer já amanhã, então importa estar preparados para a corrida e isso é feito hoje. Resiliência não significa resignação, mas se procurarmos no dicionário quer dizer “capacidade de superar, de recuperar de adversidades”. Se tudo correr mal já estaremos de certeza preparados, mas se tudo correr bem convém preparamo-nos já. Prefiro ser otimista!

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