AESE insight #106 - AESE Business School - Formação de Executivos

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O ano da desética

Pedro Alvito

Professor da Área Académica de Política de Empresa e Diretor do Short Program Construir o Futuro nas Empresas Familiares

Este ano perdi um amigo. Não porque morreu ou porque foi para longe, mas porque falhou no seu relacionamento comigo e com a sociedade. O seu comportamento foi eticamente inaceitável em termos pessoais e profissionais pondo os fins a que se propunha acima dos meios que utilizou. Nunca os fins por mais nobres que sejam justificam os meio utilizados. Pelo menos é assim que penso neste mundo que só valoriza resultados. O mal foi e está feito, nada foi feito para o impedir ou corrigir e a alma sofre.

Mas afinal porque conto aqui esta história tão pessoal? Julgo que infelizmente é uma história que ultrapassa o ano que agora termina, o local em que aconteceu e as pessoas em causa para ser uma situação mais universal. Explico em vários pontos.

  1. A guerra na Ucrânia ou na palestina são reveladoras de isso mesmo. O olhar sem qualquer respeito pelo ser humano procurando apenas a glória e os interesses pessoais ou de grupo, a ganância do poder e do dinheiro que distorce toda a realidade humana, a busca da supremacia racial, ética, religiosa ou outra que não é mais do que o espavento da primazia do eu, são um crucificar perigoso da ética e do respeito pelo homem nas relações internacionais.
  2. Internamente não podíamos estar piores neste aspeto. Mais parece que ética e política são coisas incompatíveis e pior do que tudo são os argumentos utilizados, as justificações inventadas que por força da insistência com que são proclamados parece que ganham o vínculo da verdade e da moralidade. O rei vai nu e parece que ninguém quer ver.
  3. As redes sociais são um bem em si mesmo, mas a facilidade com que se destroem verdades sociais e científicas e até pessoas com podcasts e posts é assustadora. Vemos atitudes semelhantes através dos meios de comunicação que não olham a meios para das “noticias” sensacionalistas sem qualquer confirmação da sua veracidade, séries de televisão que através de imagens e palavras fortes vendem conceitos e falsidades sem qualquer grau de confirmação cientifica ou social, intervenções desprovidas de conhecimento de pessoas que por serem chamadas de “influencers” ganham um estatuto de “donos da verdade” e que sem escrúpulos fazem julgamentos sociais, políticos e até científicos repletos de ódio e até causando destruição levando a que uma massa social pouco (e infelizmente às vezes até muito) preparada engula estas teorias e opiniões sem qualquer filtro.
  4. E o que dizer das nossas empresas, escolas, organizações que tão preocupadas estão com a imagem de sustentabilidade, de igualdade, de paridade, de inclusão e de tantas outras palavras que entraram no nosso léxico recentemente mas que na realidade estas questões pouco ou nada têm que ver com preocupações reais com a qualidade aumentada do produto que vendem ou do serviço que prestam nem com as obrigações éticas da empresa perante os seus clientes, fornecedores, empregados e com a sociedade em que a mesma se integra.
  5. E nós? É que a ética não é só para os outros. Eu não estou imune a ela e muitas vezes acreditamos que qualquer ato desde que seja praticado por nós tem um alto valor ético. Pergunte-se aos grandes líderes mundiais que conduzem a guerra, aos políticos presos ou envolvidos em escândalos, aos donos e administradores de empresas envolvidos em processos de corrupção, pergunte-se a nós na nossa empresa, escola ou organização. Tudo foi sempre feito com a máxima ética.


Dir-me-ão que estou neste final de ano muito pessimista. Eu direi que estou triste e preocupado. Por isso inventei esta palavra desética para classificar este ano esperando classificar 2024 como o ano da ética.
Julgo que a lição do menino nascido numa estrebaria é talvez a melhor notícia deste ano. Se nos deixarmos encantar pelo presépio e pelas suas lições de desprendimento, respeito, liberdade, igualdade, sustentabilidade, inclusão e sobretudo amor aos outros construiremos um ano de 2024 melhor do que 2023.

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