AESE insight #109 - AESE Business School - Formação de Executivos

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Ageless Entrepreneurship

Francisco Carvalho

Professor de Entrepreneurship Initiative do AESE Executive MBA

Empreender não tem idade. Com 18 ou 60 todos podem ser “jovens” e empreendedores num determinado projeto, negócio ou atividade social. O importante é a realização que isso traz a cada um e a aprendizagem que levamos do caminho percorrido. O momento e a etapa da vida onde estamos condiciona, em muito, a vontade (ou necessidade) de empreender. Na minha opinião ser empreendedor não nasce connosco, não é inato. No entanto se vivo a minha infância numa família com empresários, tenho uma predisposição natural para enveredar por esse caminho. Mas a maioria das pessoas não nasce em famílias com negócios. É um tema que se constrói, que evolui, muito com a ajuda da academia que nos vai despertando para certos temas de atitude e realização profissional, onde este poderá ser um dos caminhos certos. Existem, no entanto, traços psicográficos que são importantes, como a capacidade de não ter medo, de arriscar, de falhar, de voltar a tentar e por vezes de voltar a falhar. A isto chamamos resiliência, fundamental no dia-a-dia de um empreendedor. Não nasci numa família de empreendedores, mas lancei o meu primeiro negócio aos 17 anos numa década ainda sem grande tecnologia nem apoios públicos como existem hoje. Desde logo quis fazer coisas, tinha uma mente inquieta, criativa e gostava que o meu trabalho tivesse impacto nos outros. Faço-o hoje, 35 anos depois, da mesma forma.

Portugal tem feito muito pela promoção do empreendedorismo, principalmente a nível das políticas publicas de promoção ao investimento, otimização fiscal, apoio à criação e internacionalização de startups. Em 2023 foi realizado um investimento aproximado de 1000 milhões euros em startups e scale ups. Mais de metade, cerca de 600 milhões, foram alocados só ao formato startups. Somos um país excelente para empreendedores internacionais virem implementar os seus projetos. Temos um conjunto de externalidades positivas que potenciam a realização de provas de conceito, minimum viable products, pilotos etc. Portugal tem a 26ª posição no Global Startup Ecosystem Index Report, o que a nível mundial, é bastante positivo. Temos um bom nível de early adoption tecnológico, estamos no top 10 dos países com melhor nível de inglês, para além de bem posicionados no ranking de talento intelectual e científico. Cerca de 2500 pessoas estão empregadas no ecossistema das startups e continuamos com sete unicórnios, o que são dados bastante interessantes para a nossa dimensão. Em 2023, este ecossistema faturou cerca de 2.2 milhões de euros em receitas, em que 1.3 milhões foram classificados como exportação.

No entanto continuamos com alguns desafios que devemos ultrapassar. Um dos grandes constrangimentos para ser empreender continua a ser cultural. Ainda existe muita a frase “vais abrir um negócio?… olha que é um risco” ou “não preferes comprar uma casa”. Estamos melhor do que há 20 anos atras, mas ainda há o estigma de errar e não ter sucesso. Outro é a dificuldade de obter escala. Cerca de 70% das startups, de um universo de 4 mil que existem no país, foram criadas nos últimos 5 anos, em que 80% das quais têm menos de nove empregados e estão no setor terciário. São micro empresas. Há uma trilogia que muitas vezes não é embebida no empreendedorismo em Portugal: «Pensar grande, começar pequeno e crescer rápido». Este problema de escala, de visão, de planeamento global e por vezes de falta de realismo são erros típicos dos nossos empreendedores. Pela experiência sabemos que a maior parte das startups morre no “vale da morte” (1,5/2anos) muitas vezes por falsas expectativas ou deficiente planeamento. A solução passa muito por uma aprendizagem, em que as empresas têm de testar, testar, testar antes de realizar o go-to-market. Na academia, mais concretamente na AESE, temos essa missão, nomeadamente nas atividades relacionadas como a transformação de empreendedores.

A nível empresarial a inovação e empreendedorismo não se podem tornar num lugar-comum, onde as empresas falam nestes temas apenas porque estão pressionadas a fazer coisas diferentes. O que é realmente necessário é introduzir nas empresas uma atitude de inovação estrutural com uma relação mais flexível com o risco e o erro. As empresas não precisam de inovar e criar tudo a partir do zero, por vezes pequenos incrementos marginais, do seu produto e/ou do seu serviço, são fundamentais para fazer a diferença. É determinante que haja um endorsement top down, que leve as equipas a pensar de forma disruptiva, a questionar e a levantar hipóteses. Essa atitude é fundamental para haver inovação, orgânica e endógena. Quando não conseguem fazer sozinhas por falta de tempo, recursos ou foco, devem recorrer a stakeholders externos como por exemplo a academia para promover inovação colaborativa e aberta, com recursos bem formados, experiência e know-how multidisciplinar critico para todo o processo. Nas empresas temas como inovação aberta e intraempreendedorismo são críticos para captar e reter talento jovem e sénior, aumentar a adoção tecnológica, e promover as relações entre diferentes parceiros de negócio na cocriação de soluções e desafios conjuntos.

Os níveis de C-Level devem ser o motor de inovação, é fundamental que comece pelos líderes. Estes podem não ser pessoas intrinsecamente inovadoras, mas devem pelo menos ser facilitadoras da inovação e não obstruir a capacidade de pensamento crítico das organizações. A nível das chefias intermédias, começamos a ter a preocupação de que os resultados da inovação sejam aplicados diretamente na cadeia de valor do negócio, devendo ser criteriosamente medidos para avaliação de um ROI específico. Já não é só sobre ter boas ideias. Nas equipas, está comprovado, que há uma maior retenção de talento quanto mais existir um estilo informal e participativo de inovação dentro das empresas. Hoje reter talento é fundamental para ter valor nos projetos.

Também na academia temos muito ainda por fazer. Na formação de talento, na transformação de líderes empreendedores, na promoção de programas e metodologias inovadoras que tragam pensamento critico e disruptivo aos jovens e menos jovens. É isso que fazemos nas atividades do DisruptiveLeaders360 da AESE. Temos a missão e o propósito de aumentar o nível de talento dos nossos gestores por forma a empreenderem mais e melhor nos seus projetos próprios e/ou nas empresas onde trabalham.

O empreendedorismo não tem idade…tem sim um propósito de realização pessoal, profissional e de impacto numa determinada comunidade satisfazendo necessidades e resolvendo problemas concretos do nosso dia-a-dia.

A política de concorrência e as grandes plataformas

Luís Cabral
Professor da Universidade de Nova Iorque e colaborador na AESE

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Bruno Proença
Professor da Área de Política de Empresa da AESE Business School

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