AESE insight #111 - AESE Business School - Formação de Executivos

AESE insight #111 > Thinking ahead

A exportação de frutas e legumes está em risco

Gonçalo Santos Andrade

Presidente da Portugal Fresh e Diretor do GAIN | Direção de Empresas da Cadeia Agroalimentar

Entrevista de Teresa Costa, jornalista do Dinheiro Vivo ,a Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh e Diretor do GAIN | Direção de Empresas da Cadeia Agroalimentar.

O presidente da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores pede uma ação urgente a nível nacional para aproveitamento da água.

O protesto dos agricultores surpreendeu-o?
As ambições desmedidas do European Green Deal e do Farm to Fork resultam num decréscimo de produção na União Europeia, onde os produtos são altamente seguros e de qualidade. Estas medidas, têm também como consequência um aumento das importações de países terceiros. São ambições que não são sustentáveis e não podem ser aceites pelos agricultores. Por este motivo, as manifestações não surpreendem ninguém que esteja por dentro das políticas europeias que, nos últimos anos, não têm como prioridade a segurança alimentar dos consumidores da União Europeia (UE). Em Portugal também já existia um grande descontentamento e a falta de pagamento de parte substancial das medidas de agricultura biológica e da produção integrada gerou uma indignação generalizada no setor devido à incompetência e falta de respeito pelos agricultores que a ministra demonstrou.

A proximidade de eleições, nacionais e europeias, pode empolar a motivação para os protestos?
As eleições europeias têm uma enorme importância neste contexto e foi muito importante esta chamada de atenção por parte dos agricultores europeus e nacionais. O setor agroalimentar necessita de uma maior atenção e têm de ser criadas ambições equilibradas a fim de garantir um aumento da produção na UE. Recordo que a UE representa apenas 6,4% da emissão dos GEE [Gases de Efeito Estufa], e o agroalimentar, em particular, não chega a 1%. Precisamos de compromissos com a China, os EUA e a Índia em vez de estarmos a condenar o futuro da nossa agricultura.

Subscreve os motivos dos protestos dos agricultores portugueses?
Claro que sim. O setor agrícola e florestal foi abandonado e maltratado nos últimos anos. A ministra da Agricultura não ouviu nem defendeu o setor. A contestação é natural e expectável.

Quais são os principais impactos dos protestos, europeus e nacionais? Já é possível quantificar?
O setor das frutas, legumes e flores depende muito das exportações. Exportamos mais de 50% do valor que produzimos e 80% dos nossos produtos têm como destino os mercados da UE, que é o nosso mercado local. Espanha, França, Países Baixos e Reino Unido são os principais mercados. Qualquer bloqueio ao livre comércio na União Europeia é crítico para o setor, principalmente para os produtos mais perecíveis. Registámos atrasos de 12 a 48 horas com os bloqueios em França, mas os clientes foram muito flexíveis. No entanto, houve imediatamente uma ligeira quebra nas encomendas devido ao facto de os clientes procurarem alternativas no Egito, Turquia, Áustria, Alemanha e outros países que não têm a zona dos bloqueios como trajeto logístico.

As exportações do setor estão em níveis confortáveis. Podem estar em risco?
Em 2023, as exportações nacionais registaram um crescimento de 11,4% em relação ao ano anterior, atingindo os 2300 milhões de euros. As exportações portuguesas estão em risco, sim, mas porque nos últimos anos não houve obras substanciais na modernização dos aproveitamentos hidroagrícolas e nem foram criadas novas reservas de água: charcas, reservatórios, pequenas médias e grandes barragens. O PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] podia ter previsto uma rede nacional da água, que é urgente colocar em andamento.

Se as manifestações perdurarem, que alternativas para superar os efeitos nefastos no setor?
Depende se existem bloqueios ou não. A Portugal Fresh está completamente solidária com as manifestações, mas defende a manutenção do livre comércio. Exportamos 40 a 50 milhões de euros por semana. Qualquer bloqueio é crítico para o setor que tem enorme dependência dos mercados vizinhos.

Concorda com as mudanças que a Comissão Europeia já anunciou, na sequência dos protestos, nomeadamente, o recuo na eliminação dos pesticidas?
Sim, concordamos. Não são suficientes, mas são um primeiro passo para melhorarmos a segurança alimentar na UE. São sinais positivos para os consumidores e para os agricultores.

Defende alterações no Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC)? Quer dar alguns exemplos do que deveria mudar?
O PEPAC tem de ser um plano estratégico para assegurar aos consumidores europeus produtos de qualidade, com segurança alimentar a preços acessíveis e que permita rentabilidade aos agricultores. E tem de ter como objetivo um crescimento da produção na UE e um decréscimo da dependência de importações de países terceiros, onde não há as exigências de produção que os nossos agricultores têm. O PEPAC não pode ser transformado numa política de prioridade ambiental. Agricultores ativos e com rentabilidade asseguram a ocupação do território, a manutenção de atividades em meios com baixa densidade populacional, garantem a defesa do ambiente e a preservação da biodiversidade e evitam os incêndios. O PEPAC precisa de ter um equilíbrio entre a sustentabilidade ambiental, social e económica, não esquecendo esta última. A ambição de percentagem de área afeta à agricultura biológica tem de decrescer e os agricultores têm de ter acesso a produtos fitofármacos, modernos e cada vez menos prejudiciais, que permitam manter as nossas plantas saudáveis e aumentar a produção.

Que expectativas tem em relação ao futuro ministro da Agricultura?
Queremos alguém competente, que saiba ouvir e construir em conjunto com os representantes dos agricultores e que consiga dar respostas aos desafios do setor. Precisamos de um ministério com peso político. Na minha opinião que agregue a Agricultura, as Florestas, a Coesão do Território e a Alimentação.

Entrevista publicada no Dinheiro Vivo

Caeteris Paribus, Vender é o melhor remédio

Pedro Nuno Ferreira
Teaching Fellow na área de Política Comercial e Marketing na AESE Business School, Head of Automotive Financial Services e Membro da Comissão Executiva do no BNP Paribas Personal Finance Portugal

5 casos en los que deberíamos dedicar más tiempo y esfuerzo a la venta

Cosimo Chiesa
Fundador e Presidente do Barna Consulting Group, foi professor de Comercial e Marketing no IESE Business School e na AESE Business School

As recomendações de leitura

2024 Copyright AESE Business School :: Todos os direitos reservados :: Usamos cookies para darmos a melhor experiência no nosso site. Ao continuar a sua navegação iremos assumir que não tem nenhuma objeção com a utilização de cookies.
2024 Copyright AESE Business School :: Todos os direitos reservados :: Usamos cookies para darmos a melhor experiência no nosso site. Ao continuar a sua navegação iremos assumir que não tem nenhuma objeção com a utilização de cookies.