AESE insight #63 - AESE Business School - Formação de Executivos

AESE insight

AESE insight

AESE insight #63 > Thinking ahead

Immersive Executive Learning – O novo paradigma da formação executiva

Pedro Leão

Professor de Política de Empresa e Diretor do DEEP, AESE Business School

Muito se tem falado (e escrito) sobre os impactos da transformação digital e da teimosa pandemia um pouco por todas as áreas do nosso quotidiano – desde a vida pessoal à própria sociedade no geral. Neste contexto, torna-se cada vez mais claro que uma das áreas que mais está a mudar é a da Educação, prevendo-se alterações transversais da pré-primária à formação executiva.

Este movimento de mudança já era observado desde o arranque do paradigma Industry 4.0[1] em 2011, a nível do contexto pedagógico e dos próprios conteúdos suportados por novas tecnologias, mas o derradeiro indutor destas mudanças foi inequivocamente o surto pandémico. Numa questão de dias, escolas que antes contavam com um modelo de negócio totalmente “físico”, com aulas e eventos nas suas instalações, viram subitamente negada a possibilidade de operar, sendo fortemente limitadas numa fase inicial. Igualmente em poucos dias, as escolas foram forçadas a mudar as suas operações para um modelo de ensino digital, em que professores e alunos interagiam a partir das suas próprias casas – nascia assim a “sala de aula digital”. Esta nova realidade obrigou as escolas a muito rapidamente criarem novos formatos de ensino, adaptando os conteúdos do mundo “físico” para o novo contexto digital, onde o principal desafio foi o de perceber que conjugação de formatos e conteúdos seria mais atrativa e efetiva do ponto de vista educacional e pedagógico.

Felizmente, no caso da educação executiva, o impacto combinado “pandemia/digital” parece ter criado um momentum virtuoso, na medida em que trouxe não só uma nova forma de abordar e encarar a realidade digital como também a possibilidade de se criarem novos mecanismos e metodologias. Neste novo ecossistema de ensino digital, tornou-se possível envolver os participantes de programas de formação de forma mais eficaz e mais enriquecedora, dando origem a um processo pedagógico mais holístico e imersivo, designado por “immersive executive learning”, que abre novas fronteiras em termos de oportunidades para inclusão, crescimento sustentável e maior sucesso educacional.

Afigura-se assim, no caso particular da formação executiva, um futuro risonho de onde destaco dez tendências, oito de contexto pedagógico e duas a nível de novos conteúdos, nomeadamente:

A nível de contexto pedagógico:

  1. O online veio para ficar – no trabalho e na formação executiva: apesar do gradual regresso à normalidade e ao trabalho presencial, existindo em alguns casos um “cansaço conjuntural” da presença online de quase dois anos, a grande maioria das empresas (e das pessoas) está a levar a cabo uma profunda reorganização interna, questionando em que condições é que os seus colaboradores devem (ou não) estar fisicamente presentes. No caso da formação online, dados os seus inequívocos benefícios (comutações à distância de um “clic”, maior flexibilidade, menores custos, entre outros), verificou-se um aumento da oferta de programas em formato digital de 98% nas principais universidades mundiais, no período 2019-2020, com mais de 53% dos programas actuais a estarem baseados numa oferta online, segundo um estudo recente da UNICON[2].
  2. A tendência para o modelo híbrido – físico + online: o facto de existir uma gradual apetência pelas vantagens do modelo online, sobretudo a nível da eficiência, não retira ao modelo presencial algumas das suas valências positivas para os participantes dos programas, nomeadamente a nível de networking e de interacção com o ambiente das escolas. Assim, prevê-se uma gradual articulação conjunta do online com o “presencial”, em magnitudes variáveis de acordo com as situações e os targets dos respectivos programas.
  3.  O advento do networking digital e dos “geographic pods”: apesar de muitas reservas iniciais quanto à eficácia do networking em ambiente digital, os resultados obtidos na maior parte das iniciativas levadas a cabo de 2019 a 2021 provaram que as redes digitais combinadas com as ferramentas apropriadas podem originar redes efectivas de contactos, criando autênticos “melting-pots culturais” onde fóruns virtuais, chats e outras metodologias potenciam a interacção entre participantes de proveniências diversas no panorama nacional e internacional. Um efeito colateral entretanto verificado é que mesmo os perfis individuais mais introvertidos num ambiente de sala de aula tradicional têm tendencialmente menos reservas em participar no online, havendo uma certa tendência para se equalizar o ambiente social. Em programas internacionais, é possível organizar inclusivamente eventos presenciais onde os vários grupos “locais” se reúnem em determinado local e interagem online com os restantes grupos internacionais, dando origem aos chamados “geographic pods”. 
  4. A necessidade de gerir o “generation gap”: Com a crescente entrada no mercado do trabalho da geração Millennial torna-se premente que escolas de negócios e empresas saibam gerir e minimizar o gap geracional, nomeadamente alinhando o ambiente formativo e profissional às preferências de uma geração cujas normas de trabalho e de vida são radicalmente diferentes da geração anterior – maior digitalização, menor formalidade e mais flexibilidade serão factores chave no sucesso quer da formação executiva quer do trabalho. 
  5. A reorientação para o “human-centric learning”: a adopção massiva da componente digital em resposta ao desafio da pandemia, levou as principais escolas de negócios a ajustar o seu staff, procurando novos skillscom maior literacia digital, atingindo um aumento de 91% ao nível do staff de gestão de sessões digitais, segundo um estudo da AACSB[3]. Em resposta ao novo staffing, espera-se que as escolas ajustem os seus processos internos, nomeadamente a nível da melhoria da preparação técnica, no enfoque na qualidade da experiência pedagógica dos participantes (ao invés de avaliações formais), fomentando a co-criação com os próprios participantes, centrando-se no enriquecimento da experiência dos participantes.
  6. O papel central do suporte de ensino individualizado – mentoring: após dois anos de pandemia, muitos foram os que aproveitaram pelo menos parte do seu tempo para repensar as suas vidas, carreiras e apostas pessoais, procurando um estilo de vida com maior propósito. Esta senda de um propósito “maior” deixou patente a necessidade das escolas de negócio incluírem nos seus programas uma componente de Mentoringindividualizada que possa apoiar a definição e implementação das novas apostas profissionais (e de vida) dos participantes.
  7.  A experiência “immersive Learning”: VR, gamification, simulações e afins: a crescente evolução tecnológica a nível da realidade virtual (RV), das simulações em realidade aumentada (RA) e de muitas outras ainda em fase de desenvolvimento estão a potenciar ambientes formativos cada vez mais ricos e cativantes para os participantes, que por sua vez dão origem a experiências pedagógicas mais impactantes e duradouras. Segundo um relatório recente da Accenture[4], o uso de tecnologia RV e RA resulta num acréscimo de 12 % de rigor e numa taxa de execução 17 % mais rápida. Nesta senda, é igualmente detetável uma tendência crescente de aplicação do conceito de “gamification” recorrendo a competições inter-grupos, pontuação de atividades, tabelas de scoring e outros artefatos para capturar o interesse dos participantes e os manter interessados nos programas de formação.
  8. A aposta nos ecossistemas de formação: a crescente pressão das empresas relativamente ao impacto líquido no negócio das suas apostas de formação executiva está e vai continuar a originar vários tipos de movimentos de parceria estratégica.Por um lado, vai aumentar o número de parcerias estratégicas com grandes empresas para desenho de programas customizados, por outro, vão aumentar as parcerias em rede com peers, criando assim a oportunidade de enriquecer o claustro de professores e a oferta de conteúdos (e o “prestígio” dos diplomas no mercado de trabalho). Em paralelo, prevê-se também o aparecimento de plataformas LMS – Learning Management Systems, operando em “modo Netflix”, onde empresas e escolas de negócios disponibilizam conteúdos numa plataforma conjunta, como por exemplo a Wingspan[5] lançada recentemente pela Infosys. 

 A nível dos conteúdos:

  1.  A procura por skills de transformação e liderança digital: a falta de literacia digital no mercado de trabalho que se fazia sentir antes da pandemia tinha originado o aumento significativo da procura por formações na área. Mas a necessidade de skills de liderança de crise e em ambiente digital (digital leadership) fez catapultar esta procura não só ao nível dos quadros médios, mas sobretudo no chamado C-level, passando a ocupar um lugar cimeiro em termos de procura de formação executiva, tendência que se espera vir a aumentar nos próximos tempos. Inclusivamente, áreas mais técnicas como a cibersegurança e a criptomoeda vão assumir uma relevância crescente no panorama da formação executiva.
  2. As novas tendências de design organizacional: Quando já vivíamos tempos conturbados, eis que novos fenómenos de efeito global vieram agitar ainda mais as águas: Covid em 2019 e Guerra em 2022. Estas variáveis macro vieram tornar o ambiente de negócios ainda mais complexo e desafiante, pelo que as empresas ficam obrigadas a procurar novas propostas de valor mais inovadoras e a tornarem-se mais ágeis e flexíveis. Desta forma, a capacidade de definição e implementação de novos desenhos organizacionais que assegurem uma melhor resposta do talento humano disponível torna-se crucial, apostando-se cada vez mais em novas metodologias como o Design Thinking, o Agile e outras.


Relativamente aos desafios futuros que se perfilam na formação executiva, estes parecem ser tão numerosos como interessantes, apontando para a necessidade de construção e cocriação de novos ecossistemas educativos em rede, na aposta “multi-canal” numa lógica “agnóstica” do físico versus digital, na convergência para a especialização temática (microlearning e microcredentialing) e na segmentação do mercado da formação online entre um modelo de massas (MOOC’s) e um modelo de formação online premium.

Em suma, o futuro da formação executiva afigura-se tão inovador como desafiante para as escolas de negócios que cada vez mais assumem um papel preponderante nas três esferas de influência: individual, organizacional e social. A avaliar pelo status quo recente em termos de dinâmica e inovação induzida por todos os desafios, foram os participantes dos programas formativos que recolheram os benefícios finais, na medida em que passaram a ter acesso a um contexto pedagógico mais enriquecido e cativante, recorrendo a tecnologia inovadora suportando um novo elenco de conteúdos programáticos enriquecido com temas de vanguarda que complementam os temas clássicos e intemporais da gestão, gerando currículos orientados para o futuro.

 

[1] Termo criado pelo Governo alemão a respeito da revolução digital na indústria.

[2] International Consortium for Executive Education.

[3] Association for Advance Collegiate Schools of Business.

[4] Emerging Trends In Higher And Executive Education Domain And Future Outlook – BW Education (businessworld.in)

[5] https://www.infosys.com/products-and-platforms/wingspan.html



Artigo publicado no Dinheiro Vivo

Outros artigos

Una mirada al panorama de negocios actual desde el modelo de Política de Empresa

Ángel Proaño, Profesor part-time de Dirección Estratégica, IESE Business School
Pedro Borda de Água, Profesor de Gestión General en la Escuela Naval Militar de Portugal y profesor de Política de Empresa en AESE Business School
Adrián Caldart, Associate Professor of The Practice of Strategic Management, IESE Business School and AESE Business School

Uma escola que fala a linguagem da sustentabilidade

Cátia Sá Guerreiro, Professora de Fator Humano na Organização, Diretora Programa de Gestão das Organizações Sociais (GOS) e do OSA – Liderança no Feminino

Negotiating with Vladimir Putin: Video Advice from Five Former U.S. Secretaries of State

Harvard Kennedy School, Belfer Center for Science and International Affairs

Rebuilding the Foundation for Peaceful Progress

Project Syndicate

War in Ukraine and food security: Developing a judicious food first strategy for autumn

Stiftung Wissenschaft und Politik

What Peter Drucker Knew About 2020

Rick Wartzman, Harvard Business Review

2024 Copyright AESE Business School :: Todos os direitos reservados :: Usamos cookies para darmos a melhor experiência no nosso site. Ao continuar a sua navegação iremos assumir que não tem nenhuma objeção com a utilização de cookies.
2024 Copyright AESE Business School :: Todos os direitos reservados :: Usamos cookies para darmos a melhor experiência no nosso site. Ao continuar a sua navegação iremos assumir que não tem nenhuma objeção com a utilização de cookies.