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Os obstáculos e oportunidades para impulsionar o papel do veículo fundo na poupança das famílias portuguesas

Afonso Barbosa

Professor da AESE, Alumnus Executive MBA AESE e CFO Azimute Reak / Strategic Planning / Business Transformation

Os fundos de investimento já foram mais relevantes nos ativos de poupança das famílias portuguesas. No entanto, razões diversas abalaram a confiança nestes veículos de investimento, que representam hoje valores modestos na poupança das famílias, quando comparados com 2008. Será muito difícil que, em Portugal, estes produtos alcancem, nos próximos anos, uma maior representatividade na poupança global das famílias, sem o alinhamento prévio pela indústria de um conjunto de catalisadores de negócio.

Os segmentos dos fundos de investimento e fundos de pensões abertos exemplificam bem os desafios que a indústria portuguesa enfrentará nos próximos anos.

Desde logo, desafios ao nível das capacidades de gestão de investimentos, que são evidentes na análise da performance de longo prazo. Por exemplo, nos últimos 15 anos (até junho 2023), a maioria das categorias de fundos mobiliários – de mercado monetário, obrigações, multi-ativos, entre outras – gerou rentabilidades líquidas anuais inferiores a 1,5%. O registo ao nível dos fundos de pensões abertos não foi distinto. Apenas nas categorias de fundos de ações se obtiveram rentabilidades líquidas superiores, ainda assim, em média abaixo dos 3,0% por ano. Estes dados devem ser interpretados com cuidado – as categorias descritas integram produtos com políticas de investimento e perfis de risco distintos, assim como médias simples escondem produtos específicos com performances muito interessantes em períodos longos. Não obstante, o aumento da penetração deste tipo de produtos na poupança dos particulares depende muito da capacidade de se destacarem, globalmente, como alternativas de aforro atrativas em termos nominais e reais. Este objetivo dependerá de respostas estruturais da indústria, sem as quais a perceção de valor é difícil de sustentar.

Vamos também assistir a outros condicionalismos que poderão dificultar a recuperação da representatividade destes produtos, incluindo em aspetos de contexto externo como os resultantes da evolução nos enquadramentos legislativo e regulatório. Por exemplo, a RIS – Retail Investment Strategy, mais recente proposta de Diretiva da UE, poderá gerar profundas alterações na forma de fazer negócio da indústria, bem como na relação entre os diversos tipos de intervenientes ao longo da cadeia de valor (nomeadamente, entre distribuidores e produtores).

Caminho a seguir

Mas, nos temas que a indústria tem capacidade de influenciar, as melhorias na gestão de investimentos são apenas uma parte, embora crítica, dos aspetos sobre os quais todos os players deverão refletir e atuar. Destacaria também os seguintes:

  • Adaptação das propostas de valor da indústria às necessidades realistas dos clientes: por exemplo, é inequívoco o conservadorismo dos aforradores portugueses, pelo que as sociedades gestoras necessitam desenvolver ofertas que melhor se adaptem a esta característica, como produtos de absolute return, soluções de proteção dinâmica de capital, entre outras. Naturalmente, há um trabalho importante a fazer ao nível da literacia financeira dos aforradores portugueses, mas aumentar o share-of-wallet dos clientes e captar novos aforradores dependerá muito mais da aproximação da indústria às necessidades dos clientes, não o inverso. Neste processo, muitos players terão de tomar decisões difíceis, entre elas a necessidade de a oferta atual evoluir para os extremos do valor acrescentando pela atividade, competindo pelo preço com uma qualidade razoável ou competindo pela diferenciação com preços premium.
  • Num esforço conjunto entre distribuidores e fornecedores de produtos financeiros, reforçar a experiência do cliente nas atividades de poupança e investimento, calibrando abordagens de self-servicing digital e de interação pessoal, em função do tipo, relevância, necessidades e interesses individuais do cliente. Nesta matéria, o papel da tecnologia será incontornável, um dos motivos pelos quais perspetivo elevados investimentos da indústria nos próximos anos.
  • Clarificação da estratégica na distribuição de produtos financeiros. Em Portugal, o canal bancário representa quase 70% da distribuição destes produtos; ao nível do retalho de particulares, este canal representa mais de 85% dos volumes. Mas os principais players são bancos universais, onde o negócio da poupança coexiste com outras linhas de negócio, profundamente distintas, gerando por vezes prioridades de difícil compatibilização. Por exemplo, desde o início de 2022, a prioridade ao crescimento dos resultados de intermediação financeira gerou alterações ao nível da gestão da poupança, com um superior foco na manutenção de uma robusta base de depósitos. Acredito que a clarificação do papel de cada interveniente, no longo prazo, na cadeia de valor da poupança e investimento facilitaria o desenvolvimento da oferta, as decisões de investimento no negócio e, em última análise, o crescimento do mesmo.


É neste contexto que deve ser encarado o papel do wealth management (WM) que, historicamente, está muito associado a clientes do segmento private. No futuro, clientes de diferentes segmentos patrimoniais exigirão maiores capacidades de aconselhamento aos seus prestadores de serviços e produtos financeiros. Neste sentido, acredito que, gradualmente, os serviços de WM servirão uma base cada vez mais alargada de aforradores, embora em formatos distintos e, uma vez mais, com um suporte tecnológico crescente (incluindo, mas para além, de tecnologias como as de robot-advisory).

Por outro lado, o WM evoluirá na identificação de novas formas de servir, passando tanto pelo reforço das capacidades de aconselhamento, quanto por uma visão cada vez mais holística das necessidades do cliente – mais vastas do que a mera rentabilização do património e distintas em diferentes fases da vida.
A confluência destas duas tendências no WM gerará, na minha opinião, uma pressão (positiva) crescente nos fornecedores de produtos e outras soluções financeiras recomendáveis.

Os fundos internacionais

A disponibilidade comercial de fundos internacionais gera, naturalmente, um superior leque de opções para os aforradores e proporciona uma concorrência salutar com os operadores domésticos.

Esta oferta deve também ser encarada como positiva por, em alguns casos, proporcionar o acesso a distintas capacidades de gestão de investimentos (a elevada escala do negócio de alguns players internacionais proporciona capacidade de investimento em recursos e tecnologia), sendo um bom exemplo a disponibilidade de ETF no mercado português.

Por outro lado, embora de uma forma muito gradual, os comercializadores nacionais estão a evoluir no conceito de arquitetura aberta de distribuição e, nessa matéria, a disponibilização de produtos internacionais adequa-se bem à estratégia, gerando, potencialmente, maior atratividade e robustez da proposta de valor junto da base de clientes.

Mas a oferta de fundos estrangeiros – apesar do crescimento assinalável no mercado nacional – não é suficiente, como catalisador, de uma superior penetração de produtos de investimento na poupança de particulares. Como referi, nesta matéria o desafio da indústria será, nos próximos anos, muito mais de caráter estrutural e estratégico.


Artigo publicado no Funds People

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