AESE insight #104 - AESE Business School - Formação de Executivos

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Os ecossistemas empresariais – 3 exemplos a seguir

José Ramalho Fontes

Presidente da AESE Business School e Professor de Operações, Tecnologia e Inovação

Os ecossistemas empresariais* constituem um novo modelo de organização da atividade económica que se vem impondo como válido, à medida que justificam o bom funcionamento de alguns setores, assim como explicam os resultados insuficientes noutros.

Sendo o ecossistema um modelo novo procurei referências em Portugal que pudessem propor comportamentos, estratégias e organizações para o resto da Economia, e sugerir vias de desenvolvimento que reforcem a dinâmica atual. Com essas características, mas estruturas bastante diferentes, identifiquei exemplos interessantes nos seguintes setores: o do Calçado, da responsabilidade da APICCAPS, o das Frutas, Legumes e Flores, dinamizado pela Portugal Fresh, e o da Saúde, constituído à volta do HCP, Health Cluster Portugal. Sublinhe-se, desde já, que cada um deles exportou mais de dois mil milhões de euros em 2022.

Portugal Fresh
O ecossistema da Portugal Fresh triplicou as suas exportações de 780 Milhões de euros em 2010 para 2.040 Milhões de euros em 2022, com um robustecimento da arquitetura do setor apoiando-se nas OP, Organizações de Produtores dos associados que, em Portugal, representam 20% da atividade (na Europa, 50%) e numa dinâmica estrutura central, altamente enxuta, com ações de internacionalização primorosamente organizadas. Entre outras ações, também procurou intensificar as exportações das cadeias internacionais de distribuição moderna, existentes em Portugal, a partir da maior capacidade de resposta proporcionada pelas Organizações de Produtores.

Constatando que 53% dos produtores individuais têm mais de 65 anos, em Portugal, apontou para uma preparação sistemática da transição geracional se se quisesse ter uma visão a 10 anos, um horizonte ambicioso e realista, mas que… já começou a contar no ano passado e há dois anos, o que exige planos bem desenhados, ações bem implementadas e avaliações regulares.

O Health Cluster Portugal
Sensibilizado pela associação crítica entre a saúde, a dieta mediterrânica e o consumo excessivo de álcool, identifiquei o HCP, Health Cluster Portugal, com sede no Porto, como um ecossistema constituído mais recentemente de uma forma mais estruturada, dada a sua grande heterogeneidade por incluir várias indústrias e serviços, e que vem multiplicando realizações e desenvolvendo iniciativas que cobrem uma enorme quantidade de áreas. No que se refere às exportações, uma realidade que poderia não ser relevante num setor que consideraríamos prioritariamente de serviços, proporciona consistência à marca Portugal – HCP – tanto na venda de preparados farmacêuticos, têxteis e dispositivos médicos, assim como em serviços de saúde, atingindo o valor de 2,42 mil milhões de euros, em 2022 (1,6 mil milhões de euros, 2019).

Ecossistema do Calçado
O terceiro ecossistema que considero inspirador, é o do Calçado, o mais antigo e, quiçá, aquele que melhor explicita as vantagens de incluir empresas, com dimensões díspares, num tecido concentrado e dinâmico que inclui uma sólida instituição de I&D. O cluster é mobilizado por uma instituição profissional a APICCAPS, que tem um propósito estratégico muito bem definido, mais bem estudado e sucessivamente avaliado.

Os processos comerciais do calçado mercado do calçado ndos Estados Unidos é gigantesco e com uma concorrência enorme, mas sem regulamentação especial. As empresas portuguesas, com um crescimento constante são recentes e sem especial regulamentação, e mesmo assim o Calçado, venderam, em 2022u 114 milhões de euros, com um preço médio de 37€ (+ 42% de 26€, a média global).

Como se explicam estes resultados num setor com empresas mais recentes, muito mais pequenas, em médias, e menos ‘sofisticadas’ que outras exportadoras nacionais, como a cortiça, o tomate e o vinho? Entre outras, há duas razões nucleares: uma única instituição dinamizadora do ecossistema, a APICCAPS, com uma gestão consistente e profissional, por um lado, e uma sintonia das principais empresas e empresários que vibram em uníssono, com uma comunicação setorial sempre positiva, com conteúdos de alto valor e excelente apresentação, por outro. Paralelamente, a APICCAPS é, pela sua organização, uma das maiores promotoras portuguesas dos programas europeus, com uma faturação anual muito significativa e uma exemplar prestação pública das respetivas contas.

Em suma, estes três ecossistemas mostram a importância de procurar entregar mais Valor aos clientes, e mostram também que em Portugal é possível colocar as empresas a trabalhar em conjunto. São exemplos para os outros sectores da Economia,

No próximo artigo apresentarei algumas propostas para adaptar os ensinamentos destes 3 ecossistemas ao Sector da Vinha e do Vinho.


* Um ecossistema é uma unidade ecológica constituída por uma comunidade de organismos vivos e pelo seu meio ambiente em que estão definidas as relações de interdependência entre si próprios e o ambiente que os rodeia. O termo foi cunhado pelo ecologista Arthur George Tansley, em 1935.
– Um ecossistema empresarial, uma comparação sugerida por James F. Moore, em junho de 1993 (HBR, May-June, 1993) é constituído por comunidades de produtores e consumidores e pela sociedade, em que estão definidas as relações de interdependência entre si próprias e o resto da economia. Nele podem distinguir-se tanto o contexto geral – os elementos ‘não-vivos’, o ambiente natural e as construções humanas – como a componente viva, constituída pelos agentes económicos, que incluem os produtores, as empresas que oferecem produtos e serviços, e os consumidores finais. Para forçar uma comparação mais próxima com o ecossistema biológico, que inclui os decompositores, no ecossistema das empresas também se incluem os recicladores, com uma relevância crescente.
– Nos ecossistemas biológicos há dois fluxos, o dos materiais e o da energia, mas nos empresariais existem três fluxos principais que condicionam o seu comportamento: o fluxo de dinheiro e a transferência de materiais, mas também a informação produzida pelos diversos agentes. O dinheiro, que decorre das atividades anteriores, circula no ecossistema apenas numa direção, por oposição ao fluxo de materiais, que é cíclico e a informação que é, simultaneamente, cíclica e generativa.

Líderes Empreendedores

Maria de Fátima Carioca
Professora de Fator Humano na Organização e Dean da AESE Business School

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Bruno Proença
Director for Sustainability and ESG at JLM&A | Senior Teaching Fellow at AESE Business School

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