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Sustentabilidade nas empresas: à procura de equilíbrios numa longa transformação

Bruno Proença

Diretor de Sustentabilidade da JLM&A e Professor de Estratégia, Sustentabilidade e Política de Empresa na AESE Business School

A Sustentabilidade já foi um tópico mais consensual entre investidores, empresários e gestores. Até ao eclodir da infeliz e injustificada guerra na Ucrânia, assistimos a um certo unanimismo entre políticos, ONGs e instituições internacionais, a que se juntavam os stakeholders na área empresarial, na defesa da aplicação dos pilares ESG (ambiente, social e governance) nas organizações para se conseguir atingir os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas. A maré perdeu força. Hoje a assistimos a uma fadiga na Europa e a um contra-ataque nos Estados Unidos.

O influente Financial Times fez manchete numa edição recente com a pressão da Alemanha e Itália para que a União Europeia recue na determinação de colocar um ponto final na produção de automóveis com motor de combustão em 2035. Estes países, onde o setor automóvel tem um peso determinante nas suas economias, querem mais tempo. Entretanto, um conjunto de CEOs de empresas gigantes europeias, entre as quais a alemã BMW, assinaram uma carta onde sublinham que é impossível aplicar a nova legislação europeia dentro dos prazos definidos pela Comissão Europeia.

Nos Estados Unidos, o assunto é mais complexo e o debate mais radical. A questão das alterações climáticas e o combate às políticas de Sustentabilidade (ESG) entrou no arsenal de armamento político dos Republicanos contra os Democratas. Vários Estados republicanos têm aprovado legislação que penaliza os bancos, os fundos de investimento e seguradoras que tenham estratégias que beneficiem os “investimentos verdes”, penalizando os investimentos em energias fósseis. Dentro deste grupo está Ron De Santis, Governador republicano da Flórida e que já se posicionou para a corrida para futuro Presidente dos EUA.

Em resultado desta pressão política, alguns dos grandes bancos de investimento e dos maiores fundos de investimento mundiais recuaram nas suas promessas de privilegiarem os projetos que contribuam para a descarbonização da economia.

Os processos de transformação da sociedade e da economia nunca são fáceis, nem lineares. O tema da sustentabilidade não é novo. Desde a segunda metade do século passado que o assunto foi abordado em vários estudos, já teve diferentes conceitos antes do ESG (como “desenvolvimento sustentável”) e mereceu cada vez mais atenção por parte das instituições internacionais, como as Nações Unidas ou a União Europeia. Entre avanços e recuos, a verdade é que o tópico da sustentabilidade entrou definitivamente na agenda política e das maiores corporações, seja nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Os Acordos de Paris e as últimas reuniões da COP foram determinantes para o salto que o assunto deu. Os políticos, empresários e gestores sentem hoje a forte pressão dos diferentes stakeholders – eleitores, clientes, colaboradores, numa palavra: comunidade. O assunto entrou também na agenda mediática. Os principais media dedicam diariamente artigos à Sustentabilidade ESG e até personalidades como Bill Gates já publicaram livros sobre o tema.

Ainda assim, muita conversa sobre um assunto não é sinónimo de ação. E estamos precisamente nesse ponto. A maioria dos países e uma parte significativa das empresas já prometeu chegar ao “net zero” em CO2 até 2050, mas há um fosso abismal entre as promessas e os planos de ação concretos. As últimas análises dos especialistas das Nações Unidas mostram que as promessas de países e empresas são insuficientes para cumprirmos o objetivo de travar o aquecimento global entre 1,5 e 2 graus. E, entretanto, vivemos o perigo da Europa e os EUA retrocederem antes de alcançarmos algum resultado visível.

Ainda assim, a sustentabilidade não é somente uma moda defendida por uma elite com uma agenda pós-moderna. É um movimento transformador da economia e da sociedade, até porque os impactos negativos das alterações climáticas, como as secas prolongadas ou as chuvas torrenciais e as cheias, vão ter tendência para se agravarem.

Este movimento transformador vai impactar fortemente as empresas. Por um lado, as instituições internacionais, a União Europeia e o Governo já começaram a aprovar legislação que vai forçar alterações nos modelos de negócio das empresas e na forma como se relacionam com a comunidade, obrigando nomeadamente à divulgação de mais informação. A nível europeu, destaca-se o projeto “Green Deal” da Comissão Europeia e, dentro deste, o “Fit for 55”, que contempla um conjunto de diretivas que vão acabar por ser transpostas para a legislação nacional. Para já, merecem destaque a EU Taxonomy, a SFDR, a CSRD e, muito recentemente, a diretiva que regulamenta as ‘due delligences’ ambientais.

Mesmo envoltas em alguma polémica e com um processo legislativo que ainda está incompleto, a EU Taxonomy, a CSRD e a diretiva das ‘due delligences’ vão mudar o panorama regulatório e o contexto de negócios das empresas. A EU Taxonomy, já em vigor, define quais são as atividades económicas sustentáveis. A CSRD, que deverá entrar em vigor em 2025, definirá a informação não financeira, no âmbito do ESG, que as empresas vão ser obrigadas a divulgar publicamente anualmente. E a diretiva relativa às ‘due delligences’, que já recebeu a luz verde do Parlamento Europeu, definirá como as empresas devem “auditar” os seus fornecedores, para verificarem se cumprem os princípios da sustentabilidade. O objetivo é a alargar a sustentabilidade a toda a cadeia de valor.

Além disto, há um outro driver de mudança que resulta das modificações no sistema financeiro, que está a ser particularmente impactado pela agenda para a Sustentabilidade, nomeadamente por ação dos reguladores e supervisores. Os reguladores europeus (BCE/ MUS) e nacionais (Banco de Portugal) já produziram regulação imperativa e estão a desenvolver ações de supervisão (como os “green stress tests”) com maior frequência e com critérios mais exigentes. As instituições financeiras vão ser obrigadas a melhorar os seus modelos de risco (e de negócio), por forma a, por um lado, identificar os impactos nos seus ativos e passivos das consequências das alterações climáticas e de outros fatores associados à Sustentabilidade ESG e, por outro lado, adotar as medidas necessárias para reforçar a sua resiliência. Para isto, vão necessitar de reforçar os níveis de informação e conhecimento sobre os seus clientes e sobre o mercado relativamente aos tópicos da Sustentabilidade, o que terá um efeito em cascata sobre toda a economia, em especial em Portugal onde o sistema financeiro é a principal fonte de financiamento das empresas.

Portanto, é uma questão de tempo até que toda as empresas comecem a sentir os impactos materiais da Sustentabilidade no seu negócio. Perante isto, as empresas podem reagir de duas formas. Olharem para a nova legislação como mais um “castigo”, um “obstáculo” burocrático e um custo de contexto ao desenvolvimento da sua atividade. Ou como uma oportunidade para repensarem os seus modelos de negócio e os serviços e produtos que produzem, contribuindo para uma comunidade mais sustentável e sendo reconhecidos por isso por investidores, clientes, fornecedores e colaboradores.

Nos anos noventa do século passado, começou a onda transformadora da digitalização da economia. Também na altura, muitas organizações desvalorizaram os ventos de mudança. Hoje, as empresas mais valiosas do mundo são todas do sector tecnológico. Estamos provavelmente a viver o arranque de um movimento transformador semelhante. Quer ficar do lado certo ou do lado errado da história? A resposta a esta pergunta é óbvia para qualquer investidor, empresário ou gestor com bom senso.

A dificuldade maior é encontrar o equilíbrio certo no movimento de transformação, para não criar rupturas no funcionamento das empresas e da atividade económica. Nenhuma empresa muda o seu modelo de negócio no sentido da sustentabilidade com um estalar de dedos. Requer tempo, convicção e persistência. Porém, quanto mais tarde começar, pior. Hoje, já é mais caro não fazer nada e simplesmente aguardar. A mestria está em encontrar o ritmo correto na jornada de transformação. É isto que vai distinguir as organizações de excelência.

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