AESE insight #61 - AESE Business School - Formação de Executivos

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Como solidificar ‘os melhores anos de sempre’ na economia portuguesa?

José Ramalho Fontes

Presidente da AESE e Professor de Operações e Tecnologia

Num recente artigo do AESE insight apresentei 6 setores portugueses que consideraram 2021 como os seus melhores anos de sempre, com pequenos matizes diferenciais entre uns e outros. O contraste desse resultado com a evidência das dificuldades experimentadas pela sociedade como um todo, suscitou entre diferentes dirigentes com quem troquei impressões, dois tipos de comentários: em primeiro lugar, o seu carácter assimétrico muito marcado que sugere solidariedade, que orienta dois tipos de tomadas de decisões por parte dos dirigentes dessas realidades económicas: de exploração de situações favoráveis em ordem à sua multiplicação e ampliação, por um lado, e de iniciativas mitigadoras dos prejuízos ou corretoras das causas dos problemas, por outro.

Numa segunda perspetiva, essas conversas referiram que os exemplos apresentados traduziam resultados setoriais e não de empresas concretas, apontando para um outro tipo de assimetria entre as empresas desses ecossistemas, como referi, sublinhando a importância desse conceito. Na verdade, o ecossistema amplia o conceito de cluster e proporciona uma visão mais atual da economia identificando redes mais ou menos estruturadas de empresas e organizações que interagem entre si criando ou consumindo produtos, informações de todo o género e recursos económicos, por um lado; mas por outro, identificando novos atores relevantes no mesmo contexto alargando ou redefinindo a relação linear da cadeia tradicional.

Ao nível das empresas que integram os ecossistemas, as assimetrias também são evidentes e é mais simples identificar e explicar as razões dos diferentes resultados. Numa perspetiva sistémica há uma razão muito clara para explicar esses sucessos e compreender, por exemplo, as diferentes dificuldades das empresas que tiveram prejuízos, que se encontram com grandes problemas ou, mesmo, cessaram a atividade: as diferenças na dimensão tanto no volume de negócios como nas equipas de gestão executivas ou de staff. As maiores defenderam-se melhor ou tiveram resultados extraordinários, enquanto as mais pequenas sentiram os problemas de forma mais profunda e radical, em geral, e ainda não estão a operar aos níveis de 2019 ou, mesmo, ativas.

Num interessante editorial da publicação IM2/21, do BPI Research, o tema estava bem esquematizado: há uma relação direta e documentada entre dimensão empresarial e produtividade. As empresas grandes costumam ser muito mais produtivas. Por exemplo, as vendas por empregado nas empresas com mais de 250 trabalhadores são mais do dobro do que nas de menor dimensão, um padrão que se observa de forma generalizada em todos os países desenvolvidos, em que se verifica que o nível de produtividade é semelhante em empresas de igual dimensão.

Em Portugal, por exemplo, apenas 0,1% das empresas têm mais de 250 trabalhadores, enquanto na Alemanha este número é 0,3 p.p. superior, mas o impacto que isso tem na distribuição do emprego e na produção é de outra ordem: na Alemanha, a proporção de pessoas que trabalha em empresas com mais de 50 trabalhadores é 18 p.p. superior, com tudo o que isso acarreta em termos de produtividade a nível agregado.

Quais são as razões dessa diferença? As empresas de maior dimensão são mais produtivas, em parte, porque são as que melhor souberam adaptar a sua gestão e estrutura às necessidades dos seus clientes. Já eram mais produtivas quando eram pequenas e, graças a isso, cresceram. Além disso, a dimensão maior permitiu-lhes explorar as economias de escala e, portanto, melhorar ainda mais a sua produtividade. Graças à dimensão maior, também puderam investir mais em inovação, tanto tecnológica como em ativos intangíveis, e puderam formar os seus trabalhadores e oferecer-lhes melhores condições de trabalho. O emprego costuma ser de maior qualidade (por exemplo, a proporção de contratos sem termo é claramente superior) e a remuneração é substancialmente mais elevada (50% superior em relação às empresas mais pequenas).

Se cruzarmos a dimensão com a referência feita, nesse artigo do AESE insight, sobre a alterações que introduz no tipo de gestão dos seus dirigentes e empresários, podemos compreender melhor o crescimento saudável de umas ou as dores e sofrimento nas que não conseguem traduzir as maiores vendas em desenvolvimento. Nas primeiras, os responsáveis de topo, com equipas de gestão mais equilibradas, podem dedicar-se, adicionalmente, a pensar no futuro, a ponderar alternativas, a trocar impressões com concorrentes e com outras entidades públicas ou privadas, associativas ou cívicas. Com esta liberdade adicional puderam investir em formação executiva, atualizando os seus conhecimentos, sistematizando a sua experiência, entrando em contacto com outras áreas e negócios que ampliam horizontes ou abrem novas e promissoras oportunidades.

Por contraste, nas mais pequenas, os empresários e dirigentes, sem prejuízo do seu grande talento e dinamismo, ficam reféns do quotidiano e não conseguem nem delegar nem parar para retificar o que deve ser modificado ou potenciar o essencial, abandonando o acessório.

Neste contexto de assimetrias, parece-me relevante introduzir uma chamada de atenção do Prof. Luís Cabral, da AESE e NYU, em entrevista recente ao Dinheiro Vivo: “A revolução digital é um fenómeno dos últimos 30 ou 40 anos que cria estruturas de desigualdade. Não é resultado de esquerda ou direita, país A ou B, mas tem muito que ver a geração das chamadas superestrelas. As empresas superestrelas, os setores, os artistas, os gestores superestrelas. Verifica-se uma forte tendência de concentração de ganhos num número muito restrito de empresas, atores, etc. Não o podemos evitar, mas temos de considerar os seus efeitos sociais e de poder de mercado”.

Esta referência de fecho do artigo, impôs-se-me como reforço extremo da importância do crescimento porque essas superestrelas não são entes longínquos, mas realidades que impactam no quotidiano das empresas e exigem ações bem ponderadas de equipas executivas que não estão afogadas no dia-a-dia, mas têm ocasião de parar para pensar para enfrentarem estas novas realidades e para explorarem todas as múltiplas oportunidades que se abrem para quem está melhor preparado.


https://www.dn.pt/dinheiro/luis-cabral-a-tecnologia-e-a-economia-colocaram-nos-numa-situacao-insustentavel-14198482.html

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