AESE insight #37 - AESE Business School - Formação de Executivos

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AESE insight #37 > Thinking ahead

A nossa Boa Esperança

Fátima Carioca

Dean da AESE Business School

“Partidos dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de Tormentoso, mas el-rei D. João II lhe chamou cabo da Boa Esperança, por aquilo que prometia para o descobrimento da Índia tão desejada.”  João de Barros, Décadas da Ásia.

A passagem do Cabo das Tormentas, ou Boa Esperança, dependendo da perspetiva, foi um momento marcante que, no seu tempo, fortaleceu a esperança e deu novo ânimo ao sonho de avançar na trajetória desejada, assim também a nova etapa de desconfinamento (“à terceira é de vez!”) reforça a esperança na oportunidade de desenharmos um futuro, não isento de tormentas e perigos, mas sobretudo repleto de novos caminhos a serem percorridos e aberto a possibilidades não sonhadas.

Tal como o Cabo não foi o início do caminho, também esta nossa nova realidade se iniciou há um ano atrás, se não antes. E, como apontado por Debora Revoltella, Economista-Chefe do BEI, em entrevista recente, “apesar das perturbações económicas causadas pela COVID-19, as empresas portuguesas têm a inovação no topo da sua agenda. As empresas afetadas pela crise económica causada pela COVID-19 aperceberam-se que a inovação e a digitalização poderão ser as melhores ferramentas disponíveis para fazer face à atual crise”.  Com efeito, e de acordo com o relatório 2020/2021 do BEI sobre o investimento, a digitalização e a transição climática (Building a Smart and Green Europe in the Covid-19 Era), cerca de metade das empresas portuguesas inovaram e investiram, desenvolvendo ou adotando novos produtos, processos ou serviços.

Estamos num momento empolgante, mas que, ao mesmo tempo, pode ser assustador. Nas empresas, a atenção necessita continuar a focar-se na recuperação, garantindo que o legado da pandemia não asfixia a atividade, o crescimento e a sustentabilidade. Neste sentido, as mudanças estruturais entretanto empreendidas continuarão a ser críticas, bem como a resposta a grandes desafios globais como as alterações climáticas, a digitalização, a industrialização e a inclusão social. Estes desafios talvez possam parecer demasiado abrangentes e são-no. Mas cada um deles exige respostas nossas, concretas, diárias, institucionais e pessoais.

A era pós-pandémica acelerará drasticamente a transformação que já está a acontecer na realidade física e digital. E ninguém está imune. O ambiente competitivo e a rápida evolução fazem-se notar, bem como a exigência de todos os stakeholders, nomeadamente clientes, colaboradores, acionistas, sociedade. Sem demoras, é tempo de 1. revisitar o mundo das tecnologias e 2. voltar a olhar a organização, a sua cultura, os seus processos e as suas pessoas.

Em relação às tecnologias, é bom lembrar que muitas inovações – desde a inteligência artificial, à robotização, à realidade aumentada, ao 5G, aos novos materiais, etc. – permitem uma visão enriquecida sobre o mundo, mais interconectada, mais informada, mais atuante e serão por isso mesmo grandes aliadas. Este é o momento de entender como cada uma das novas tecnologias, ou a criativa combinação de várias, pode contribuir para o negócio e para a empresa, criando valor, simplificando as operações e surpreendendo os clientes. É o momento de arriscar, porque aqueles que hesitam arriscam-se a um perigo maior: o de não sobreviver. E recordar a velha máxima: Don’t Panic; Don’t Wait; Get Help.

Entretanto, é também fundamental manter a organização sem receio de experimentar novas formas de trabalhar, de produzir, de inovar. Aliás, esta nova fase será decisiva na forma como incorporamos tudo o que aprendemos e vivemos neste ano. Depois de estarmos a trabalhar a partir de casa simplesmente porque tem de ser, chega a oportunidade de desenhar o futuro da organização e da vida de cada um. Cruzar onde e como melhor trabalhamos, com o quando e como melhor funcionamos coletivamente, como organização. Cada organização terá que pensar em como articular as dimensões do lugar e do tempo, em como equilibrar diferentes ambientes que potenciam a energia e o foco de cada um, com a coordenação e colaboração entre todos e, a partir daí, projetar formas híbridas de colaboração sem precedentes.

Deixando, contudo, opções em aberto. Não será estranho que muitos dos colaboradores que hoje escolherão não regressar, daqui a uns meses anseiem por uma maior sociabilidade, por estar face a face e partilhar o espaço com os colegas. Uma solução híbrida entre dias na empresa e outros fora da empresa pode funcionar, mas, neste caso, é necessário assegurar que a infraestrutura é fiável e intuitiva e, coletivamente, a solução é eficiente. Uma outra ideia poderá ser criar núcleos corporativos localmente, no bairro ou no concelho. Como se vê, as possibilidades são imensas e, por isso, há que dar tempo ao tempo para ir ajustando a configuração ideal.

Uma coisa é certa, a variedade de combinações possíveis de tempo e lugar exigirá líderes altamente competentes e motivados, comprometidos em fazer bem este trabalho, para a organização e para cada um. Tal significa procurar desenvolver a empatia e ouvir as necessidades individuais e, ao mesmo tempo, ser criativo no pensar e no desenvolvimento de soluções corporativas.

Mais uma vez, Don’t Panic; Don’t Wait; Get Help. Por outras palavras, não vale a pena entrar em pânico, é bom começar desde já a discussão sobre o futuro da organização e pedir a colaboração de todos no desenho e adoção de soluções que funcionem. Vamos lá! É tempo de olhar para as Tormentas e ver nelas a Boa Esperança.



Artigo publicado no Dean’s Corner do Jornal de Negócios

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