AESE insight #79 - AESE Business School - Formação de Executivos

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Empresas, Riqueza e Trabalho

Eugénio Viassa Monteiro

Professor de Fator Humano na AESE Business School e autor do livro “O Despertar da India”

Parece um lugar-comum que só as empresas criam riqueza e trabalho e que sem elas, regiões e países inteiros se vão depauperando. Mesmo que algo se tenha entendido disto, muito parece ter ficado de lado ou submetido a outras considerações de caráter político e/ou ideológico.
Lembramo-nos, mesmo com os contornos mal definidos, como na Península Ibérica se expulsaram os judeus, alguns séculos atrás: consequência imediata foi que eles, sempre muito inventivos e criadores de riqueza foram dar grande impulso aos países que os receberam. E a Península Ibérica ficou despojada de iniciativa e de ciência, com reduzida capacidade de inovar.

Também por tensões religiosas um elevado número de “parsis”, do Irão, que professavam a religião Zoroastriana, viu-se obrigado a abandonar o seu país, indo buscar refúgio, no país que os quisesse acolher e deixar em liberdade. Dizem que os parsis saíram em busca da boa vontade dos monarcas, por onde iam passando, sempre com negativas, até chegar ao Monarca de Gujarat, onde após alguma relutância os deixou estabelecer. Impôs, contudo, algumas restrições e a necessidade de se identificarem com os costumes e festas locais. Mas após ver o seu comportamento exemplar, retirou as restrições, para que vivessem como lhes aprouvesse, também as suas festas e eventos religiosos.

Felizmente que foram bem recebidos, a ponto de vermos hoje na descendência parsi na Índia, figuras notáveis de Filantropos, Intelectuais, Médicos, Cientistas, Artistas, Filósofos, Financeiros, Empresários, etc., com grande sentido patriótico e de lealdade ao país.

É bom continuarmos atentos e com a necessária abertura mental, pois a diversidade de origens, de formação, de convicções religiosas, de proveniência, de experiências e, sobretudo, de ousadia de quererem arriscar, tem o efeito de criar uma cultura rica, fomentadora da criatividade e ideias originais, para avançar.

Após a independência da Índia, o modelo económico era do tipo soviético governados pelas Licenses Raj para levar à prática qualquer tipo de projeto de investimento. Com isso o Estado queria exercer controlo sobre os meios de produção e isso fez que muitas pessoas com grande iniciativa, desmotivadas, preferissem emigrar para países onde eram bem recebidos e apreciados, como era o caso dos EUA.

Eles podiam ter lançado uma enorme quantidade de empresas na sua terra, criando muita riqueza e trabalho, mas os dirigentes não o permitiram, preferindo um modelo económico estéril, mas controlado. Veja-se como o modelo de livre iniciativa, adotado a partir de 1991, tem vindo a dar resultados cada vez mais satisfatórios, ao ritmo da abertura da economia, isenta de controlos sem sentido.

Interessante é notar que em 2016 se criaram na Índia menos de 500 start-ups [1] . Mas no corrente ano elas são já 73.000. É um belíssimo número para um país que não tinha tradição de criar empresas. Melhor, sob o modelo de tipo soviético, até ao ano 1991, quem quisesse ter iniciativas empresarias teria de emigrar, porque não havia lugar para ele/a no país. Mesmo assim, ainda surgiram no marasmo da Licence Raj algumas empresas de pessoas indómitas e patriotas que não cederam à facilidade de criar empresas nos Estados Unidos ou no Reino Unido. Quiseram fazê-lo na sua terra, superando todas as dificuldades.

Entre as start-ups [2] de hoje identificam-se 56 setores, onde se contam mais de 4.500 start-ups da Internet das Coisas (IoT), Robótica, Inteligência Artificial e Analítica. Reconhecidas estão cerca de 12% no setor das TI, 9% no domínio dos cuidados da saúde e ciências da vida; 7% na educação; 5% no setor profissional e de negócios de serviço e 5% no setor agrícola.

Unicórnios

O conceito de unicorn [3], por si mesmo estimulante, pode estar a ser um fator desestabilizador, por todos quererem que a sua empresa atinja esse patamar. Para se provar que uma ideia é mesmo boa devem passar anos de prova, para se ter a funcionar em todos os pormenores e brilhar na sua plenitude.

Em 2021, com 90 unicórnios, a Índia era o terceiro maior hub de unicórnios, depois dos Estados Unidos (487) e da China (301), e à frente do Reino Unido (39). Note-se ainda que 55% dos unicórnios dos EUA são promovidos por emigrantes. E, desses, 66 por emigrantes da Índia e 54 por israelitas [4].

Nos últimos 20 meses, o ecossistema indiano produziu 60% dos unicórnios do país elevando o número a 105. De acordo com o Inc42’s ‘The State of Indian Startup Ecosystem Report 2022’, a Índia terá 250 unicórnios em 2025, ficando logo a seguir aos EUA. Os unicórnios da Índia estão avaliados coletivamente em $341 bn. Compare-se este valor com os $93 bn em fundos recebidos nas duas últimas décadas.
É interessante constatar que cerca de 49% das nossas start-ups estão atualmente em cidades de nível II e III, o que é prova da juventude criativa bem distribuída pelo país.

Ambiente para as start-ups e para a inovação

Importante é tomar as medidas que criem um ambiente favorável à experimentação das ideias, ao encontro das pessoas com objetivos afins e uma infraestrutura que torne os primeiros passos mais fáceis, sem que os jovens se sintam esmagados pelas dificuldades dos começos e com vontade de desistir. É verdade que as dificuldades iniciais são um bom filtro para deixar passar as boas ideias e pôr à prova a paciência do seu autor em demonstrar a sua valia …

Houve reformas para criar mais facilidade de fazer negócios, para conseguir o capital e reduzir as complicações de conformidade com as exigências do ecossistema de start-ups. Com o ‘Programa de Proteção à Propriedade Intelectual de Start-ups’, simplificaram-se e aceleraram-se os processos relacionados com a concessão de patentes e marcas. “Como resultado, quase 6 mil patentes e mais de 20 mil marcas foram solicitadas neste exercício financeiro”.

Quase todos os IIT-Indian Institute of Technology e os IIM-Indian Institute of Management, além de outras Instituições de Ensino Superior qualificadas e destacadas, têm as suas incubadoras de start-ups, onde disponibilizam espaço e serviços básicos, bem como newsletters sobre os avanços e realizações dos projetos que funcionam nessa instituição. Assim, os Business Angels ou outros potenciais investidores podem ir acompanhando a evolução. E os novos grupos de estudantes podem ver e contagiar-se pelo ambiente, para tentar realizar as suas próprias ideias.

As incubadoras são um ambiente propício para estímulo mútuo, com uma cultura empreendedora rica, resultante da troca de ideias entre pessoas com os mesmos objetivos.

Start-ups e unicórnios em números citados dão ideia do elevado ritmo para um país que nunca sobressaíra neste domínio, sempre enterrado na sua pobreza e miséria, infligida por longo tempo pelo colonialismo britânico.

Haverá que encontrar meios para manter o ritmo, sem se cair na obsessão de que só contam os unicórnios. É certo que o tempo médio de passar da ideia da start-up para ser unicórnio se reduziu-se para metade, como consequência da aprendizagem que sempre está presente nos afazeres humanos bem pensados.


Publicado no LinktoLeaders >>


[1] Professor da AESE Business School; autor do livro “O Despertar da India”.

[2] As start-ups são empresas de propriedade privada, nos primeiros estádios de desenvolvimento.

[3] Cfr. Times of India, 8 Aug. 2022.

[4] Homenagem ao animal possante com o chifre apontando para um crescimento exponencial. A start-up unicórnio tem uma avaliação superior a $1.000milhões.

[5] Business Today Desk, Jul 27, 2022.

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